Mostrando postagens com marcador Saramago. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Saramago. Mostrar todas as postagens

sábado, 20 de dezembro de 2008

o que disse Saramago

se Saramago disse isso, eu devo mesmo estar do lado certo...

O golpe final

By José Saramago

O riso é imediato. Ver o presidente dos Estados Unidos a encolher-se atrás do microfone enquanto um sapato voa sobre a sua cabeça é um excelente exercício para os músculos da cara que comandam a gargalhada. Este homem, famoso pela sua abissal ignorância e pelos seus contínuos dislates linguísticos, fez-nos rir muitas vezes durante os últimos oito anos. Este homem, também famoso por outras razões menos atractivas, paranoico contumaz, deu-nos mil motivos para que o detestássemos, a ele e aos seus acólitos, cúmplices na falsidade e na intriga, mentes pervertidas que fizeram da política internacional uma farsa trágica e da simples dignidade o melhor alvo da irrisão absoluta. Em verdade, o mundo, apesar do desolador espectáculo que nos oferece todos os dias, não merecia um Bush. Tivemo-lo, sofrêmo-lo, a um ponto tal que a vitória de Barack Obama terá sido considerada por muita gente como uma espécie de justiça divina. Tardia como em geral a justiça o é, mas definitiva. Afinal, não era assim, faltava-nos o golpe final, faltavam-nos ainda aqueles sapatos que um jornalista da televisão iraquiana lançou à mentirosa e descarada fachada que tinha na sua frente e que podem ser entendidos de duas formas: ou que esses sapatos deveriam ter uns pés dentro e o alvo do golpe ser aquela parte arredondada do corpo onde as costas mudam de nome, ou então que Mutazem al Kaidi (fique o seu nome para a posteridade) terá encontrado a maneira mais contundente e eficaz de expressar o seu desprezo. Pelo ridículo. Um par de pontapés também não estaria mal, mas o ridículo é para sempre. Voto no ridículo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

o blog do Saramago

eu sou mesmo parva, nem sabia q o Saramago tinha um blog.

espiar.

Obs: tô no fim do Caverna, e tô adorando.

só pra dar gostinho, vê só o q o velhinho lusitano escreveu por lá:

"

George Bush, ou a idade da mentira

Pergunto-me como e porquê Estados Unidos, um país em tudo grande, tem tido, tantas vezes, tão pequenos presidentes. George Bush é talvez o mais pequeno de todos eles. Inteligência medíocre, ignorância abissal, expressão verbal confusa e permanentemente atraída pela irresistível tentação do puro disparate, este homem apresentou-se à humanidade com a pose grotesca de um cowboy que tivesse herdado o mundo e o confundisse com uma manada de gado. Não sabemos o que realmente pensa, não sabemos sequer se pensa (no sentido nobre da palavra), não sabemos se não será simplesmente um robot mal programado que constantemente confunde e troca as mensagens que leva gravadas dentro. Mas, honra lhe seja feita ao menos uma vez na vida, há no robot George Bush, presidente dos Estados Unidos, um programa que funciona à perfeição: o da mentira. Ele sabe que mente, sabe que nós sabemos que está a mentir, mas, pertencendo ao tipo comportamental de mentiroso compulsivo, continuará a mentir ainda que tenha diante dos olhos a mais nua das verdades, continuará a mentir mesmo depois de a verdade lhe ter rebentado na cara. Mentiu para fazer a guerra no Iraque como já havia mentido sobre o seu passado turbulento e equívoco, isto é, com a mesma desfaçatez. A mentira, em Bush, vem de muito longe, está-lhe no sangue. Como mentiroso emérito, é o corifeu de todos aqueles outros mentirosos que o rodearam, aplaudiram e serviram durante os últimos anos.

George Bush expulsou a verdade do mundo para, em seu lugar, fazer frutificar a idade da mentira. A sociedade humana actual está contaminada de mentira como da pior das contaminações morais, e ele é um dos principais responsáveis. A mentira circula impunemente por toda a parte, tornou-se já numa espécie de outra verdade. Quando há alguns anos um primeiro-ministro português, cujo nome por caridade omito aqui, afirmou que “a política é a arte de não dizer a verdade”, não podia imaginar que George Bush, tempos depois, transformaria a chocante afirmação numa travessura ingénua de político periférico sem consciência real do valor e do significado das palavras. Para Bush a política é, simplesmente, uma das alavancas do negócio, e talvez a melhor de todas, a mentira como arma, a mentira como guarda avançada dos tanque e dos canhões, a mentira sobre as ruínas, sobre os mortos, sobre as míseras e sempre frustradas esperanças da humanidade. Não é certo que o mundo seja hoje mais seguro, mas não duvidemos de que seria muito mais limpo sem a política imperial e colonial do presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, e de quantos, conscientes da fraude que cometiam, lhe abriram o caminho para a Casa Branca. A História lhes pedirá contas."

José Saramago


é bom demais, e mesmo assim é verdade.

.

domingo, 14 de setembro de 2008

carta para Fernando Meirelles



ainda q não as leia, só quero te dizer umas breves palavras:

tua película não perde nada para o livro do nobel português!

isso é raro, é poético, inspirador.

o livro é um chute no estômago da moral humana, o filme também.
é de uma beleza nauseante, o filme também.
fede, grita e chora, esperneia, o filme também.

não sou crítica de cinema nem literatura (graçasadeus), e minha opinião é feito língua virgem em degustação de vinhos. mas amo Saramago. e meu amor me põe mais perto dos abomináveis puristas, sempre a adorar as estátuas petrificadas do deus-literatura. e mesmo assim, ainda assim, quem sabe por isso, amei cada segundo do teu filme. isso deve valer alguma coisa.

quero te dizer q também durante a minha sessão, como nos teus testes de tela, várias pessoas se retiraram ao começo daquelas cenas temidas. não devem ter lido o livro, penso eu. ainda q bem feitas e profundas, tuas cenas estavam light. enquanto Saramago nos tortura a nós e as mulheres por horas, tu nos poupa a uns poucos minutos. chorei pouco, desesperei quase nada. esse filme não é para qq um, como o livro também não.

ao fim da película, Saramago te declarou estar tão feliz quanto ao acabar de escrever o livro. eu, por minha vez, fiquei tão mentalmente paralisada ao fim das cenas quanto ao fim das páginas. só as mãos se mexeram, num solo de palmas, na sala em evacuação.

por fim te agradeço, nunca havia sonhado um dia ver a cegueira.


.

sábado, 7 de junho de 2008

a única crítica q importa



chorei ao ver o Meirelles ganhar o dia
e ao ver a cara do meu escritor preferido chorando

(não sei quem fez o vídeo, mas pra quem não entendeu é o Saramago imediatamente após assistir Blindness)




.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007


eu não dirijo. até cheguei a tirar carteira, já tive um carro, mas me livrei de tudo. é minha incompreendida opção. começou sendo pânico, virou personalidade mesmo. o telli odeia pq é sempre ele o designated driver. entendo e até concordo, mas não dá. por isso (e outros), já disse que preciso morar num lugar grande suficiente para ter metrô, ou pequeno suficiente para ser percorrido à pé (não tenho bicicleta desde os 8 anos, e acho perigoso pedalar junto ao trânsito de floripa). ando por aí com minha mochilinha, encaro uns latões, e no findi o telli-móvel me carrega.

pois bem, em tempos de aquecimento global minha escolha é praticamente chiquérrima ( ontem meu sogro veio com uma de que aquecimento global é teoria da conspiração blábláblá deusmeperdoe), mas ainda incomoda muita gente, é vista como total fraqueza.

venho então conhecendo outras pessoas com a mesma opção: o pai de uma amiga minha que foi exilado político (pra mim isso é prova de caráter, pra minha família de semvergonhice); um professor que tive; e agora leio no blog de meirelles que o SARAMAGO não dirige. lindo, perfeito, tô em boa companhia.

eu sempre digo que talvez um dia eu dirija, mas por enquanto amo muito minha excentricidade. aliás, não entendo pq tanta gente acha isso excêntrico, por acaso a gente nasce com pneu ao invés de pé?

Voltei para falar da cegueira

e das mulheres.

Fernando Meirelles está filmando o ensaio sobre a cegueira, e eu estou ansiosa para ver este filme.

já disse que as vezes me chamam de feminista, talvez eu seja, mas não sou men-hater de maneira alguma. poréeeeem, lendo o ensaio fica difícil não odiá-los por alguns instantes. são vis e covardes, uns fracotes mesmo (meirelles/saramago os chamam de inúteis). e as mulheres, como na vida, fortes e sábias.

espero que Meirelles as/os mantenha como no livro. confio que sim.

quem não leu, leia. quem não visitou, visite.

Meirelles, Moore e Ruffalo filmando em São Paulo (foto: E.Pessoa, Estadão)

quarta-feira, 4 de julho de 2007


então, tô lendo este aí. descobri que tenho ( ou tive) uma leitora. já não estou escrevendo para as cyberparedes. como ela gosta de saramago e eu também...taí.

resolvi começar minha jornada com os livros que já tenho em casa comendo poeira. são muitos. minha aposentada mãe só faz ler. e eu, burra que só, a ensinei a comprá-los pela net. a prateleira pesa, nem tudo presta, mas enquanto tiver uns saramagos eu sobrevivo.

quanto aos livros e a poeira juro que exagero. primeiramente pq a família da pessoa aqui é maníaca por limpeza. segundamente pq sempre fui contra aquelas livrarias repressoras que mantêm seus livros (leia-se mercadoria, feito um cacareco qualquer) asfixiados em embalagens plásticas. livro que não respira pra mim tá morto. não compro nenhapau. terceiramente, tchau, que eu tenho muito que ler.

terça-feira, 3 de julho de 2007


descongelei. devorei ontem o que restava do meu petit saramago. por saramago amo portugal. amo como persuade as palavras a conviver, mesmo aquelas que por muito nutriram asco mútuo. amo seus habitantes sem nome. o cão das lágrimas, o velho da venda preta, a rapariga dos óculos escuros. amei no evangelho aquela maria que tinha vagina. em geral não amo os humanos tanto quanto devo, mas a humanidade nos saramagos me comove. amo como fedem, chupam e cagam, coisas que nem todos humanos de ficção fazem, e muitos humanos de carne e osso fingem não fazer.

ok, e agora? o que vou ler?

domingo, 1 de julho de 2007



eu sofro de paralisia literária. congelo os livros nas partes que me desinstalam da minha zona de conforto. cidade de deus, por exemplo, naquela passagem horrenda da tortura do bebê eu parei. parei como se bebês torturados fossem uma ficção cruel demais para mim. e nunca mais voltei. não vi o filme. enfim, se doer eu fujo. ainda que não seja tão ficção assim. muito mais se não for total ficção. isso me lembra o joey do friends, que colocou o iluminado no freezer pq estava com muito medo. é assustador eu ser tão boba quanto o joey. estou há vários meses com o ensaio sobre a cegueira congelado no meu criado-mudo. as mulheres violadas me apavoram.

nesta semana vou terminar este saramago pra recuperar os movimentos . e vou pensando no que ler next. sugestões?

foto: defrost by psyonide, in deviantart.com