domingo, 8 de novembro de 2009

poeminha enlutado

Por ora não estou mais triste pela perda, nem brava. Já aceitei. Me ajudou muito a missa celebrativa que fizemos dia 2/11, alegre e festiva, como o Lucas.

Ainda assim resolvi postar aqui um escrito meu, feito na volta do sepultamento, dia triste e pesado. Perdoem-me a morbidez das palavras, mas mesmo a morte pode ser bela, ou pelo menos arte.


sob o fino véu da morte
te vi estático
dormindo o gelado sono
dos só memória

velado o sonho
dos passados átomos
molhados suspiros
e apertados artelhos

tantos abraços
necessário zelo
tantos encontros sentidos
dos perdidos amigos
no tempo

despreferidos abraços
melhor não tê-los
apenas um o quero
apenas um não tenho

bebi o ato do desapego
sequei o que secaram outros
calei o que calaram tantos
e selei a dúvida bem dentro

não te sei de fato morto
somente guardado para o tempo todo
na gaveta macia dos que não são
mas foram

2 comentários:

Ana Corina disse...

MARAVILHOSO. Lindíssimo, Pulga, divino! Amei, amei, amei! E quero muito acreditar que os que nos precederam também tomaram conhecimento deste teu lindo poema e ficaram emocionados. Mas hoje é um daqueles dias em que eu não duvidaria nada se depois só houvesse o pó... Beijo e vamos aproveitar enqto temos o que é certo: o AGORA. Te amo, amiga!

Luciano disse...

Continuas uma grande poetisa, Ju.
Depois que li teu post, lembrei de um trecho que me chamou a atenção no livro "Minha Formação", de Joaquim Nabuco. Fui buscar pra ti:

"O fato é que não possuo a forma do verso, na qual a idéia se modela por si mesma e donde sai com o timbre próprio da verdadeira rima, que nenhum artifício nem esforço pode imitar. Isto, por um lado, quanto à pequena poesia, à poesia solta, ao que se pode chamar a música da poesia. Quanto à grande poesia, à poesia de imaginação e criação, poema, romance, balada que fosse, para essa eu seria incapaz, além da insuficiência do talento, pela falta de coragem para habitar a região solitária dos espíritos criadores, os quais vivem naturalmente entre figuras tiradas de si mesmos, sem vida própria, autômatos da sua inteligência e da sua vontade, como em um sonho acordado. Nessa altura, onde tudo é fictício, tudo irreal, tudo fantástico, a poesia tem para mim o terror do adytum da Pítia. Mesmo quando as figuras sejam meigas, suaves, humanas, a criação envolve sempre alguma coisa de misterioso e terrível; a completa abstração, que ela supõe, da realidade exterior, do mundo dos sentidos, me daria vertigem.
Há, além da poesia de sentimento e da poesia de criação, outra poesia. O verso é a mais nobre forma do pensamento, a mais pura cristalização da idéia, e, como se tem dito, o que não se pode expressar em verso não vale quase a pena ser conservado. Essa poesia, porém, que engasta as belas idéias na mais durável e perfeita das cravações, pertence quase à espécie dos provérbios, em que se condensa e perpetua a sabedoria humana. Em Homero ela confunde-se com a história; em Dante com o catolicismo; em Goethe com a arte e com a ciência. Essa é do domínio dos mais altos gênios."
Joaquim Nabuco